sábado, 19 de setembro de 2009

Para Bia,

Numa noite de lua nova, no meio do oceano mais escuro, sigo lenta e silenciosamente para não chamar a mínima atenção.
Tenho medo e sigo assombrado com minhas aflições.
No céu, milhares de estrelas cintilam, são milhões eu sei, mas falo apenas das que posso ver.
Não há como não divagar... Tão só e tão longe!
E lá longe, na linha do horizonte, a luz de um farol piscante.
Não sei precisar a freqüência, às vezes parece mais rápida, às vezes perece mais devagar.
Não importa.
Ela me atrai.
Me tira da letargia, me conduz.
Posso dizer que me guia.
Em quase todos os momentos, principalmente nos mais difíceis.

Volto à deriva, na escuridão.
Sua presença é o meu farol.
Suas palavras e as letrinhas derramadas no seu blog são a minha luz.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pai

Hoje foi mais um dia que você não saiu de perto de mim.
Véspera do seu aniversário, não esqueci.
Fazer o que, se lembro de tantas coisas suas.
Fazer o que, se sinto tantas coisas em minha volta com a sua marca.
Em mim mesmo, nos seus netos.
Pai, não foram poucas vezes que bebi, saboreei, tentei aproveitar cada minuto da minha vida, assim como você me sugeriu viver, com seu exemplo.
Aproveitei e escolhi caminhar por estradas assim.
Obrigado.
Um abraço apertado, carinhoso, amoroso e saudoso.

P.S. 1: Puta que pariu, tô com uma saudade de doer. São mais de 20 anos com você por perto, mas sem aparecer...

P.S. 2: Estou assinando com o seu nome, fazer o quê...

sábado, 5 de setembro de 2009

O encontro com o Pequeno Príncipe na rodoviária Novorio


Naquela mesma 6ª feira, início do feriadão de 7 de setembro, lidávamos com o stress de sermos obrigados a atender muito mais passageiros do que nossa capacidade possibilitava.
Entre idas e vindas por todos os pontos da rodoviária, a tensão continua.
Nisso, apesar dos obstáculos humanos e das bagagens, um rapaz simpático caminha com desenvoltura em uma direção.
É alto, tem cabelos castanhos claros que se fossem maiores seriam encaracolados.

Ele vem com uma bengala branca. Traz com ele, uma postura de confiança, incompatível com o que seria o senso comum.
Cruzo com ele.
Por um instante me distancio, mas esqueço do stress e volto para ajudá-lo.
Chego ao seu lado e pergunto: Tá indo pra onde?
Pro banheiro, responde.
Eu te levo, afirmo.

Ele aceita sem constrangimento e segura meu braço.
Desvio dos obstáculos e ele estranha: Estava no caminho errado?
Não. É porque tem muita gente espalhada, eu digo.
E quem te disse que o banheiro é nessa direção? - pergunto.
Uma menina ali atrás, super bonita...
Percebo que ele está tranquilão e entro no papo...
Presto atenção nos ruídos em volta, imagino que ele está ligado neles também.
Chegamos à entrada do banheiro e lhe digo: Você vai ter que pagar!
Ele diz: Tudo bem...
A porteira do banheiro informa: Pode entrar pelo portão ao lado!
Ele diz, ainda sem saber quem o acompanha: Aproveite a carona e mije de graça!
Eu respondo, me identificando: Eu trabalho aqui, mas vou acompanhá-lo.

A essa altura, eu teria que procurar o stress que, sem perceber, já havia perdido.

Entrando perguntei: Vaso ou mictório?
Mictório! – afirmou.
Então me espere que vou aproveitar, também.
Ele é mais rápido do que eu e ouvindo o barulho da água das pias se dirigiu até elas.
Esbarrou em alguém de costas.
Foi possivel ouvir: Desculpe pelo esbarrão, mas não vi!
Figuraça!
Já ia saindo sozinho quando gritei: Ei, me espere!
Ah tá ...
Saimos e eu perguntei: Vem cá “ô cara” você não vê, mas ... a menina era bonita?
Ele sorri e continuamos andando.
Ele ia embarcar dali a 2 horas para Iguaba.
Falei que trabalhava na empresa e ele de imediato perguntou se eu conhecia a Adriana ou o Luis Cláudio, que eles eram muito legais e que ele conhecia todo mundo.
Perguntei onde ele ia ficar esperando para embarcar, me propondo a levá-lo
Ele disse que tava tomando cerveja com um amigo no primeiro quiosque “lá de fora”.
Porra, que amigo é esse que não te leva ao banheiro? Perguntei, sorrindo.
É que eu gosto de ser independente...
Muito mais inseguro do que ele, fui atrás do tal quiosque. (N.A. Não existe quiosque do lado de fora da Novorio!)
Ele me deu as dicas necessárias. Caminhamos "outside Novorio" até que o cheiro de "churrasquinho de gato" misturado com o cheiro da sujeira e somado ao clarão da camisa incandescente do lampião à gaz, o fizeram parar: É esse!
O quiosque era na verdade uma carrocinha caída de "X-tudo" acompanhada por isopor com cerveja e refrigerante.
Mas pra quem não sabe, lampião à gaz faz barulho.
CHEIRO E BARULHO eram as senhas para o rapaz e um jeito de ver...
Paramos, ninguém a esperá-lo.
Eu não fazia idéia se estava no lugar certo.
Ele chamou em voz alta: Flávio!
O amigo estava de costas falando despreocupadamente ao celular.
"O Flávio" virou-se: Oi!
Não resisti me dirigindo a ele.
Porra! Teu amigo vai ao banheiro e você não vai com ele?
O tal "Flávio", que ainda falava ao celular, responde afastando o aparelho: Primeiro a mulhéérr!
Figura, também!
Me despeço dos 2 amigos, sorrindo e sem stress.
Será que eu conversei com o Pequeno Príncipe, que vê menina bonitona e elefante dentro de jibóia?

Antonio Carlos Sá resolveu escrever de novo, porque acaba de perder a virgindade no texto anterior...

A jibóia pecaminosa.



Vou trabalhar 6ª. feira à noite.
Início de feriadão e promessa de muita gente e muito trânsito, em todas as chegadas no entorno da rodoviária Novorio e em todas as saídas da cidade.
Em frente às novas e atraentes bilheterias filas enormes, até para os que fizeram compra antecipada pela internet, sugerem que há um descompasso grave entre nossa capacidade de atendimento e a expectativa dos clientes.
Eu e outros gerentes avaliamos o quadro: cinza, chumbo...
Inconscientemente, fico questionando... como pode as pessoas escolherem uma data como essa para viajar?
Esse e outros pensamentos me ocorrem em busca de alguma coisa que alivie o meu stress.
São 18:00/18:30 as pessoas não param de chegar.
Elas insistem, parecem vir de todos os lugares e vão para todos os lugares!
Olhamos para os outros guiches de outras empresas para compararmos ao nosso.
No nosso, 400 pessoas ou mais atendidas por 17 bilheteiros. Nos outros 10, 12, 20 pessoas atendidas por 3, 4 ou 5 bilheteiros...

Orgulho! - penso ufanista.
Ameaça de confusão! - penso atordoado.

Aos poucos, nossa perplexidade vai dando lugar a pequenas ações positivas que vão diminuindo nossa tensão.
É muita gente, muito mais do que a nossa capacidade de atendê-las.
Parecemos uma jibóia pecaminosa que quer engolir um filhote de elefante.
Gente, a gula é pecado.

Penso agora que se “nós jibóias” não tivermos paciência e os passageiros não ficarem quietos, a gente não os engole.
Na comunicação com outros gerentes em outras cidades onde operamos, excesso de passageiros.
É a nova distribuição de renda do país, acredito.

Em uma das pequenas ações, converso com as pessoas na fila de quem fez compra antecipada por telefone ou pela internet. Após a trigem, levo pequenos grupos para outra bilheteria mais distante e com menores filas para atendê-los.
Nessa consulta constato que a maioria fez a compra pela internet e, entre elas, encontro muita gente simples, vestida com roupas simples que vai viajar a passeio. Suas bagagens respaldam minha impressão.
São clientes emergentes da classe D, viajando com filho ou filha adolescente que compraram pela internet!
É inacreditavel! É revelador!
Nunca na história desse país ...

A tensão vai diminuindo, aos poucos vamos engolindo e transportando os passageiros.
Entre idas e vindas encontro o Pequeno Principe.
Por causa desse encontro coloco nesse “post” seu desenho favorito.
Parece com um chapéu, mas, na verdade, é uma jibóia que engole o filhote de elefante.
É a metáfora de nossa empresa, nesse novo país em transformação, com seus clientes emergentes.
Só que o filhote de elefante que nos propomos a engolir a cada feriado, não para de crescer.

Antonio Carlos Sá resolveu escrever por ser amigo do Aureliano, do Elme, da Bia, da Layla, da Carol, da Lelê, da Joana, da Lady, da Renata, da Felícia, do Ricardo ...