sábado, 5 de setembro de 2009

O encontro com o Pequeno Príncipe na rodoviária Novorio


Naquela mesma 6ª feira, início do feriadão de 7 de setembro, lidávamos com o stress de sermos obrigados a atender muito mais passageiros do que nossa capacidade possibilitava.
Entre idas e vindas por todos os pontos da rodoviária, a tensão continua.
Nisso, apesar dos obstáculos humanos e das bagagens, um rapaz simpático caminha com desenvoltura em uma direção.
É alto, tem cabelos castanhos claros que se fossem maiores seriam encaracolados.

Ele vem com uma bengala branca. Traz com ele, uma postura de confiança, incompatível com o que seria o senso comum.
Cruzo com ele.
Por um instante me distancio, mas esqueço do stress e volto para ajudá-lo.
Chego ao seu lado e pergunto: Tá indo pra onde?
Pro banheiro, responde.
Eu te levo, afirmo.

Ele aceita sem constrangimento e segura meu braço.
Desvio dos obstáculos e ele estranha: Estava no caminho errado?
Não. É porque tem muita gente espalhada, eu digo.
E quem te disse que o banheiro é nessa direção? - pergunto.
Uma menina ali atrás, super bonita...
Percebo que ele está tranquilão e entro no papo...
Presto atenção nos ruídos em volta, imagino que ele está ligado neles também.
Chegamos à entrada do banheiro e lhe digo: Você vai ter que pagar!
Ele diz: Tudo bem...
A porteira do banheiro informa: Pode entrar pelo portão ao lado!
Ele diz, ainda sem saber quem o acompanha: Aproveite a carona e mije de graça!
Eu respondo, me identificando: Eu trabalho aqui, mas vou acompanhá-lo.

A essa altura, eu teria que procurar o stress que, sem perceber, já havia perdido.

Entrando perguntei: Vaso ou mictório?
Mictório! – afirmou.
Então me espere que vou aproveitar, também.
Ele é mais rápido do que eu e ouvindo o barulho da água das pias se dirigiu até elas.
Esbarrou em alguém de costas.
Foi possivel ouvir: Desculpe pelo esbarrão, mas não vi!
Figuraça!
Já ia saindo sozinho quando gritei: Ei, me espere!
Ah tá ...
Saimos e eu perguntei: Vem cá “ô cara” você não vê, mas ... a menina era bonita?
Ele sorri e continuamos andando.
Ele ia embarcar dali a 2 horas para Iguaba.
Falei que trabalhava na empresa e ele de imediato perguntou se eu conhecia a Adriana ou o Luis Cláudio, que eles eram muito legais e que ele conhecia todo mundo.
Perguntei onde ele ia ficar esperando para embarcar, me propondo a levá-lo
Ele disse que tava tomando cerveja com um amigo no primeiro quiosque “lá de fora”.
Porra, que amigo é esse que não te leva ao banheiro? Perguntei, sorrindo.
É que eu gosto de ser independente...
Muito mais inseguro do que ele, fui atrás do tal quiosque. (N.A. Não existe quiosque do lado de fora da Novorio!)
Ele me deu as dicas necessárias. Caminhamos "outside Novorio" até que o cheiro de "churrasquinho de gato" misturado com o cheiro da sujeira e somado ao clarão da camisa incandescente do lampião à gaz, o fizeram parar: É esse!
O quiosque era na verdade uma carrocinha caída de "X-tudo" acompanhada por isopor com cerveja e refrigerante.
Mas pra quem não sabe, lampião à gaz faz barulho.
CHEIRO E BARULHO eram as senhas para o rapaz e um jeito de ver...
Paramos, ninguém a esperá-lo.
Eu não fazia idéia se estava no lugar certo.
Ele chamou em voz alta: Flávio!
O amigo estava de costas falando despreocupadamente ao celular.
"O Flávio" virou-se: Oi!
Não resisti me dirigindo a ele.
Porra! Teu amigo vai ao banheiro e você não vai com ele?
O tal "Flávio", que ainda falava ao celular, responde afastando o aparelho: Primeiro a mulhéérr!
Figura, também!
Me despeço dos 2 amigos, sorrindo e sem stress.
Será que eu conversei com o Pequeno Príncipe, que vê menina bonitona e elefante dentro de jibóia?

Antonio Carlos Sá resolveu escrever de novo, porque acaba de perder a virgindade no texto anterior...

2 comentários:

  1. Bem-vindo, Sazinho!!!
    Essa história é ótima!!!
    E está muito bem contada... Conte dois, conte mais.
    Te amo.
    Beijos

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  2. Aí Sá, bom demais! Grande surpresa nessa segunda-feira travestida de terça.

    abs

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